A casa dos 20
Cheguei e a porta já estava aberta. Eufemismos à parte, estava escancarada; tanto que batia na parede da fachada. Aceitei o convite. Até me podia ter preocupado, não fossem a exaustão de carregar o peso das malas e a vontade de as largar no hall de entrada, mais urgentes do que qualquer outra coisa naquele momento. Finalmente estava ali, pensei, enquanto me deixava percorrer o corredor. Tanta gente me tinha falado da importância que teria, do significado adjacente, de como me haveria de sentir, e mais importante, para aproveitar a viagem até cá. Foda-se, e que viagem. Acredito que se não acharem que a vossa vida é de loucos, não a estão a viver como deve ser, e assim sendo, eu estava a fazer um excelente trabalho. Só não me disseram para o que é que vinha. Seria de esperar que eu entrasse a medo, mas aconteceu exatamente o oposto. Entrei de rompante para dar de caras com uma casa vazia. Tão vazia que conseguia ouvir o meu próprio eco. Era um típico final de tarde de inícios de Outubro, e as janelas, que se assemelhavam a portadas, deixavam entrar a luz sem qualquer tipo de filtro, fazendo com que toda a divisão se enchesse com tonalidades alaranjadas e douradas. Com que então, era ali que se iam passar os meus "anos de ouro"? Os anos do "ou vai ou racha"? Os anos das descobertas, das crises existenciais, de viver com os amigos, das histórias que não se contam aos netos, dos namoros em que ao fim de 1 mês te perguntam "então, é para casar?", das expectativas, das viagens de última hora, de correr atrás dos sonhos, de nos atirarmos de cabeça, de criar tradições, de nos inventarmos, de deixarmos os papás orgulhosos, de vivermos para nós mesmos, e com alguma sorte, gostarmos daquilo que nos tornamos? Ora, sem pressão. Mal posso esperar por começar a decorar as paredes - mas, acho que não quero cortinas, talvez a luz venha para ficar.
